quinta-feira, 29 de julho de 2010

ILEGAIS (Ano2003)

Em época há muito já distante,
p'ra fugir à campesina amargura,
meu pai e outros,foram à procura
de trabalho na Espanha confinante.

Foram a «salto»,sem documentação,
campónios em busca de qualquer labor,
na ceifa do trigo p'ra ganhar o pão,
tentando encontrar situação melhor.

Não ter trabalho,é uma inquietação,
e fazendo a ceifa do trigo em Espanha,
poderiam depois com a «plata» ganha,
ir p'ra Sevilha à Mundial Exposição.

Tratava-se da Exposição Mundial
onde obteriam trabalho certamente,
e como o azar nem sempre está presente,
com algum dinheiro,voltar a Portugal.

Acabados os trabalhos da Exposição,
êstes ilegais pensam com simplicidade,
que na França teriam mais felicidade,
e iniciaram a aventurosa expedição.

Mas no seu analfabetismo,ignorantes,
pensando que a França ficava ali perto,
evitavam a Polícia,como uns traficantes,
caminhando a mêdo no trilho incerto.

À almejada França conseguiram chega,
como analfabetos,do idioma ignorantes,
sem quaisquer documentos caucionantes,
p'rà construção civil,foram trabalhar.

Por lá andou meu opai indocumentado,
até que nos anos trinta,a Crise apareceu,
e êle pobre coitado,sem nada de seu,
foi,por fim,para Portugal repatriado.

Hoje como ontem,as crises do Capitalismo,
ocasionam desemprêgo,fome e insurreições,
e vemos p'lo Mundo grandes multidões
de ilegais,tentando sair do seu fatalismo.

Até em Portugal,um País de emigrantes,
há,vindos da apodrecida Soviética União,
imigrantes ilegais,levados pela ilusão,
de encontrar em Portugal futuros radiantes.

Mas sucede que o chamado empresário,
até oriundo da classe trabalhadora,
é para êstes ilegais,uma fôrça sugadora,
que aos desgraçados recusa-lhes o salário.

Tombado o mal alicerçado Socialismo,
a pulhice humana com criminosa ambição,
adoptou os pôdres do Capitalismo,
fazendo tráfico humano e prostituição.

Em 1946,tentei sem Passaporte,
chegar à França ilegalmente,
mas a Pide espanhola eficiente,
caçou-me,p'ra meu azar e má sorte.

Autoritária,a Pide espanhola disse-me então:
-Na casa do vizinho,não se entra sem licença!
E eu concordando com esta sentença,
achei que afinal a Polícia tinha razão.

Sòmente em 1964,é que legalmente,
para a Holanda vim como emigrante,
em situação menos angustiante,
que a do meu pai,clandestinamente.

Vítimas do Capitalismo opressor,
ou de sistemas Políticos ditatoriais,
presentemente há milhões de ilegais,
procurando algures,um futuro melhor.

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